domingo, 31 de janeiro de 2010

PREFÁCIO

Esse ano, na praia, tive uma revelação: a Clara é um ser independente. Até então não tinha percebido. Ela era apenas uma extensão de mim. A quem eu alimentava como alimentava a mim mesma, limpava como limpava a mim mesma e cuidava como se fosse a parte mais preciosa de mim. E pela primeira vez percebi que ela tem uma vida própria e sentei e assisti, como boa espectadora, seu modo de lidar com essa sua vida. Essa percepção começou, eu acho, quando a vi cheia de si adentrando o mar e enfrentando as ondas com decididos mergulhos. Os castelinhos embaixo do guarda-sol ficaram em segundo plano. A mim restou fazer o papel da mãe que fica na areia chamando e gesticulando em direção à praia quando julga que a situação ficou perigosa demais. Entendi que aquilo foi o prefácio da minha vida daqui pra frente: eu só observando de longe as suas escolhas, as suas proezas e seus erros... e fazendo de conta que tenho o controle da situação.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O SONHO ACABOU


Pois é gente... Eu, super feliz e realizada com a minha condição de mãe, dona de casa e madame e fazendo, inclusive, apologia à situação, estou virando a casaca. Semana que vem volto a trabalhar. Mas não se iludam com as aparências, continuo igual, ou seja, continuo adorando ficar mais com a minha filha, ter mais tempo pra mim e pra casa, viver de uma maneira mais tranquila e descompromissada. O que mudou é que a falta de dinheiro começou a incomodar. Quer dizer, pra falar a verdade já tinha começado há algum tempo e vinha assim, tendo seus altos e baixos. Veja bem, me considero uma pessoa nem um pouco consumista, mas não posso negar a minha natureza de mulher e de mãe (e de mãe de menina ainda por cima). Até sabemos que se não comprássemos absolutamente nada pelos próximos cinco anos (dez, quinze, talvez) ainda assim teríamos o que vestir e calçar. Mas daí dizer que não precisamos comprar nada durante todo esse tempo é bem diferente. Deve existir uma explicação biológica pra isso, algo remanescente em nosso DNA, uma característica que um dia fez algum sentido, foi importante pra alguma coisa. Me recuso a acreditar que seja apenas influência do nosso sistema capitalista. Todas as mulheres que conheço são assim. Até as mais desapegadas vez ou outra morrem de vontade de comprar aquela blusinha pelo simples fato dela ser linda! Depois que vira mãe então, todas aquelas roupinhas e sapatinhos parecem perfeitos demais para serem ignorados. E olha que, como eu disse, sou bem controlada na hora de comprar. Penso um milhão de vezes se o que estou comprando vai ser útil, se já não tenho nenhum outro item que tenha exatamente o mesmo uso e quando, mesmo tomando estes cuidados, acontece de comprar uma coisa que será pouco aproveitada me sinto uma verdadeira estúpida. Mas mesmo assim, com todo o meu discurso de “eu não preciso disso pra viver”, que repeti insistentemente para mim mesma ao longo desse ano e meio, acabei fraquejando e me rendendo a tentação do dinheiro. Estou triste por ter que abdicar de tanta coisa boa que a minha vida sem trabalho formal me dava: a tranquilidade e o prazer de estar com a Clara o tempo todo, o trabalho voluntário, as horas de sono a mais, a ausência quase absoluta de estresse. Mas sei que não vai ser de todo o mal. Gosto do meu trabalho e já cheguei a sentir bastante saudade. Foram muitos anos e muito tempo dedicado a ele e, por isso, sinto, de certa forma, que pertenço àquilo. E depois, acho que amadureci durante esse tempo de serenidade. Sei exatamente o que me faz feliz e a que devo dar mais atenção na minha vida. Vou tentar fazer o meu trabalho da melhor forma possível, como sempre fiz, mas espero não carregar mais aquela culpa constante de sempre achar que deveria estar fazendo mais e de achar que estou decepcionando. Aqui, assumo publicamente meu compromisso: vou tentar me valorizar como pessoa e como profissional, ter em mente que estou dando o melhor de mim e voltar para casa de cabeça vazia para aproveitar com qualidade o tempo que terei com minha filha e com meu marido. Espero que dê certo.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

BACK TO REALITY




Fim da temporada de praia. Saímos daquela dimensão paralela, aonde a maior preocupação é se vai chover ou não, para voltarmos ao mundo de carros, relógios, obrigações e compromissos. Ficam as saudades, as boas lembranças e a felicidade por saber que ano que vem tem mais.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

FÉRIAS





Férias para mim têm que ter praia e têm que ter família, quanto mais gente melhor. Aqui em casa tem sido assim nos últimos anos. Não temos casa na praia, mas fazemos questão de alugar alguma coisa por, pelo menos, quinze dias. E daí ficamos, meio apinhados, longe da comodidade das nossas casinhas da cidade, mas de bem com a vida. E olha que pra quem me conhece é difícil de acreditar que eu fique de bem com a vida longe do conforto da minha casa. Não que eu tenha muito luxo lá não. Mas é que eu sou levemente neurótica por limpeza e organização e fiz da minha casa quase que um templo em homenagem à arrumação. E é lá que eu fico completamente confortável e segura, onde eu me sinto livre para exercer toda a minha compulsividade. Então, dá para imaginar que nem sempre foi fácil para mim estar em uma casa de praia cheia de gente. Pra falar a verdade, já foi bem difícil. Na minha visão distorcida de pessoa neurótica, esses dias na praia já foram algo próximo ao fim do mundo. Mas, felizmente, a vontade e a alegria de ficar junto com a família e de proporcionar isso para minha filha foram mais fortes (ou talvez a terapia tenha surtido efeito...). O fato é que reconheço que, após alguns anos de sofrimento intenso, finalmente eu peguei o espírito do negócio. Hoje entendo que casa de praia é casa de praia. Tem areia, tem criança lambuzada de protetor espalhando farelo de bolacha e brinquedos pela casa toda, tem gente o tempo todo fazendo alguma coisa na cozinha, tem muita coisa fora do lugar, ou melhor, nem tem lugar para as coisas todas. E entendi que é justamente isso que faz a coisa ficar tão divertida. É isso que faz a gente se sentir verdadeiramente de férias. Na praia a bagunça é permitida e bem vinda e as obrigações devem ser encaradas como meios de atingir o bem estar imediato. A solução de qualquer outra coisa que não seja indispensável no momento deve ser adiada. Assim, nossas temporadas na praia estão ficando cada vez melhores, mais divertidas, mais relaxantes. Todo mundo se ajuda, todo mundo participa, todo mundo se diverte, todo mundo descansa. E boas lembranças vão ficando na vida de cada um de nós.