Theo ganhou
o primeiro castigo da sua vida. Me batia enquanto eu enxugava e vestia ele
depois do banho. Quanto mais eu tentava explicar o porquê de não se bater nos
outros, cheia de paciência e psicologia, mais ele me enchia de bordoada. Eis
que nem a minha paciência nem o meu conhecimento de psicologia infantil são tão
grandes assim e eu resolvi partir pra boa, velha e condenada ameaça:
- Theo, se você continuar me
batendo vai ganhar um castigo!
-
Eu quero ganhar um castigo.
-
Você sabe o que é um castigo? É
uma coisa ruim, uma coisa que a gente não gosta.
Nem bem a
mãe termina a explicação, ganha mais uma destemida, desafiadora e sonora
bofetada.
- Pronto Theo, você vai ganhar o
castigo que queria. Vai ficar sem livrinho antes de dormir.
A reação à
sentença variou da já esperada birra (“Mas eu quero livrinho, eu quero, eu
quero, eu quero.”), à completa negação dos acontecimentos (“Obaaaa!!!!! Agora é
hora de ver livrinhoooo!!! Pega um livrinho pra gente, mãe?"). E assim foi por dez ou quinze minutos até que eu:
- Theo! NÃO vai ter livrinho porque
esse é o seu castigo. Você entendeu agora o que é um castigo?
Filho com
beicinho trêmulo, lágrimas nos olhos, mostrando que não só decorou as palavras
da mãe, mas, de fato, entendeu o que significavam:
-
É uma coisa ruim, que a gente não
gosta.
Mãe sem
beicinho trêmulo, mas com lágrimas nos olhos, um aperto no coração e muita vontade de ler um livrinho pro filho pensa que
é muita sacanagem ter que ensinar essas coisas pros seres que a gente mais ama
no mundo.