quinta-feira, 19 de maio de 2011

CONSIDERAÇÕES SOBRE O SEGUNDO

E eu que tinha pena do segundo filho. Tanto que até pensei em não te-lo. Achava que, desprovido de todo o charme e ineditismo do primeiro, o segundo teria menos importância. Eis que, mais uma vez, me engano. Ser mãe é se enganar sempre. O segundo filho é muito sortudo, isso sim. E nada a ver aquela história de que devemos ter o segundo filho para o bem do primeiro. Ele, com certeza, faz bem para o primeiro, mas, acima de tudo, faz um bem danado pra gente mesmo. E desde o comecinho. É bem verdade que o segundo não tem o encanto do primeiro, mas é justamente aí que está a graça. Sabe aquela insegurança, aquele medo de não estar fazendo a coisa certa, aquela sensação de que você simplesmente não tem talento pro negócio? E a impressão de que você vai passar o resto da vida dormindo duas horas por noite, limpando vômitos de leite e roupinhas melecadas de cocô e xixi? E a ansiedade pra que essa fase passe logo? Se é um exagero dizer que tudo isso se transforma em um grande prazer com o segundo filho, posso, com certeza, afirmar que passa a ser uma grande diversão. Todos esses pequenos incovenientes, que uma vez tiveram a dimensão de tragédias gregas (pelo menos comigo foi assim), são agora mais um motivo pra dar um cheirinho, pra limpar as dobrinhas e pra beijar os pezinhos desses seres irresistivelmente dependentes. E se com o primeiro filho eu não via a hora de que acabasse logo o terceiro mês para que não houvesse mais cólicas, o primeiro ano pra que se tornasse mais independente, o segundo ano para que não usasse mais fralda, eu hoje estou assim: querendo que o tempo passe bem devagarinho, pra aproveitar cada chorinho, cada gemidinho, cada movimento descordenado e cada olhar assustado desse serzinho que precisa, mais do que tudo, de um aconchego de mãe. Resumindo: quem ganha com o segundo filho é a mãe, é o pai, é o irmão mais velho e é o próprio segundo filho, que certamente só irá se beneficiar dessa tranquilidade e felicidade toda.