quarta-feira, 31 de julho de 2013

CASTIGO


Theo ganhou o primeiro castigo da sua vida. Me batia enquanto eu enxugava e vestia ele depois do banho. Quanto mais eu tentava explicar o porquê de não se bater nos outros, cheia de paciência e psicologia, mais ele me enchia de bordoada. Eis que nem a minha paciência nem o meu conhecimento de psicologia infantil são tão grandes assim e eu resolvi partir pra boa, velha e condenada ameaça:


            -       Theo, se você continuar me batendo vai ganhar um castigo!

            -       Eu quero ganhar um castigo.

            -       Você sabe o que é um castigo? É uma coisa ruim, uma coisa que a gente não gosta.


Nem bem a mãe termina a explicação, ganha mais uma destemida, desafiadora e sonora bofetada.
     
          
           -     Pronto Theo, você vai ganhar o castigo que queria. Vai ficar sem livrinho antes de dormir.


A reação à sentença variou da já esperada birra (“Mas eu quero livrinho, eu quero, eu quero, eu quero.”), à completa negação dos acontecimentos (“Obaaaa!!!!! Agora é hora de ver livrinhoooo!!! Pega um livrinho pra gente, mãe?"). E assim foi por dez ou quinze minutos até que eu:


        -    Theo! NÃO vai ter livrinho porque esse é o seu castigo. Você entendeu agora o que é um castigo?


Filho com beicinho trêmulo, lágrimas nos olhos, mostrando que não só decorou as palavras da mãe, mas, de fato, entendeu o que significavam:


           -       É uma coisa ruim, que a gente não gosta.


Mãe sem beicinho trêmulo, mas com lágrimas nos olhos, um aperto no coração e muita vontade de ler um livrinho pro filho pensa que é muita sacanagem ter que ensinar essas coisas pros seres que a gente mais ama no mundo.