segunda-feira, 26 de abril de 2010

DESCOBERTAS, DÚVIDAS E INCOMPREENSÕES

E daí que um dia você percebe que pode ser uma boa biologista molecular. Foi uma boa aluna na faculdade, uma boa aluna de mestrado, uma boa aluna de doutorado e agora é capaz de ser uma boa profissional, talvez até um pouquinho acima da média. E você percebe que você poderia ter sido uma boa bailarina, ou uma boa médica, advogada ou engenheira, se você tivesse escolhido assim. E entende que, quando a gente quer e se dedica, pode ser boa, ou pelo menos bastante razoável, em uma porção de coisas. Mas daí você descobre que tem uma coisa, entre todas que você já experimentou, que realmente te diverte e te dá prazer. Talvez a única até agora. Uma coisa que não te chateia, que não te estressa, que não te deixa maluca com vontade de explodir tudo que encontra pela frente. E essa coisa é cuidar de filho. E você se assusta porque parece que isso não combina com você. Mas mesmo assim tem cada vez mais vontade de largar tudo e sair correndo só pra poder ficar com teu filho e gastar todas as suas forças com ele. E tem certeza de que isso te deixará muito mais feliz do que qualquer outra coisa que você possa fazer. E você não entende e sente um pouco de inveja da grande maioria das outras mães que nunca, jamais, pensam no absurdo de abrir mão de suas carreiras e de suas tão merecidas conquistas profissionais e conseguem fazer tudo ao mesmo tempo e têm um, dois, até três filhos e continuam sendo influentes, poderosas e bem-sucedidas. E você ouve que a mulher tem que ser independente, não pode se anular e fica muito triste e confusa porque tudo o que você queria era um pouco mais de dependência e tempo pra ser mãe e dona-de-casa. E você não acha que você estaria se anulando assim, porque, na verdade, você não está nem aí pra ser poderosa e influente e super-profissional. Daí você pensa: será que tem alguma coisa errada comigo? Será que eu sou preguiçosa e não gosto de trabalhar? Por que, afinal de contas, eu prefiro passar duas horas na cozinha fazendo bolinhos de espinafre com a minha filha do que estar em uma reunião com pessoas inteligentes e importantes, decidindo coisas fundamentais pro país? E você torce pra que nenhuma feminista e nem o teu chefe leiam isso aqui.

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