quinta-feira, 10 de maio de 2012

8 ANOS


E então você tem uma filha. Bem pequerruchinha, linda e fofa, que precisa de você pra absolutamente tudo. Você adora essa situação e paralisa toda a sua vida só pra cuidar daquela coisinha amada. Mas, volta e meia, sente uma pontadinha de vontade de que ela cresça rápido e se torne um pouco mais independente. Só que o rápido acontece muito mais rápido do que você imagina. De repente, você se vê com rugas, pelancas, toda embarangada e mãe de um ser de 8 anos. E você, que já achava que estava com a vida ganha agora que sua filha tinha se tornado uma criança educada, carinhosa, interessada e respeitadora, começa a rever os seus conceitos e a desconfiar que a primeira etapa da educação do indivíduo, na qual você foi aprovada com louvor, seja, talvez, a mais fácil de todas. Porque quando os filhos atingem oito anos, seus métodos educacionais, aparentemente, são postos a prova. Tudo aquilo que parecia ter funcionado tão bem até então, começa a não ter validade alguma. Além disso, é nessa idade que as crianças começam a achar que tem o direito de ter vida própria. Oi, como assim, filho tendo vida própria? É, eu sei, deveria ser proibido, mas não é e acontece. Devemos estar preparadas. E quando é chegada essa hora, é preciso repensar, rever as estratégias, ter muita paciência e estudar tudo mais a fundo. E quando eu digo estudar é estudar mesmo. Vale livro, internet, enciclopédia, qualquer coisa. O importante é que você tenha um conhecimento mais aprofundado antes de brigar, pedir, comentar, sugerir ou até elogiar. Porque absolutamente nada vai ser acatado sem que haja, antes, muita argumentação. Porque aos oito anos, a sabedoria e a beleza da pessoa (segundo as próprias crianças de oito anos) atingem seu ápice. E o que os amigos e os personagens dos seriadinhos de TV pensam, dizem ou fazem é sempre bem mais interessante do que as coisas que os pais têm pra falar. E é aí que a gente faz de conta que foi acometida da mais terrível crise de perda de memória recente e fica repetindo os mesmos conselhos, histórias, previsões e prognósticos assustadores, na esperança de que alguma coisa entre naquelas cabecinhas que insistem em demonstrar que não estão nem aí praquela falação toda. E é aí que você se lembra de como sua mãe fazia igualzinho e você achava a coisa mais chata do mundo, porque você já tinha entendido muito bem o recado e concordava com ela e achava que ela só podia te achar uma imbecil-desmiolada pra pensar que um dia você iria fazer coisa parecida ou se tornar algo parecido com aquela catástrofe que ela anunciava. Mas você acha que a metodologia da encheção de saco, aplicada por sua mãe, nem te traumatizou tanto assim e talvez até tenha surtido algum efeito e, na falta de um conhecimento mais aprofundado sobre a mente dos quase pré-adolescentes, você segue com a mesma técnica. E é nesse momento que você tem saudades do tempo que suas grandes preocupações eram se sua filhotinha iria dormir a noite inteira ou iria se comportar bem no restaurante. Mas, loucamente, você olha praquela menina linda, que, apesar de seus momentos de rebeldia e deslumbramento, te abraça, te faz massagem, te conta histórias, que é a sua melhor companhia, que é capaz de falar e fazer tantas coisas legais e que é tão cheia de bons valores e a saudade fica só na saudade mesmo. Saudade boa e não saudosismo que entristece. E a expectativa do que vem pela frente, em vez de assustar, te anima, te enche de perspectivas e te enche de coragem e entusiasmo. E você se sente o ser mais feliz e privilegiado do mundo por poder participar tão de perto das descobertas, decepções, questionamentos, rebeldias, alegrias, da construção, enfim, de uma pessoa.

Um comentário:

  1. Eba!!! Feliz por ter enfim encontrado um blog que fale um pouco sobre crianças mais velhas!! Vi que vc tem um bebê de 1 ano, e uma mocinha de 8 anos.... Eu tenho uma mocinha de quase 9 anos (vai completar em dezembro) e já estava desistindo de achar um blog que não tratasse apenas de assuntos "bebezísticos"...heheh
    Baci

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