domingo, 21 de fevereiro de 2010

E DE NOVO A CULPA

Basta um dia mais friozinho e chuvoso, basta uma reclamaçãozinha da minha filha às sete e meia da manhã deste dia (“ai mãe eu tô tão cansada... você sabia que eu não gosto muito de passar o dia inteiro na escola?”), basta a empregada faltar bem no dia que a casa está virada do avesso e que não tem nada pra comer e as roupas estão todas sujas, pra que pensamentos nefastos se apoderem do meu cérebro. Xô! Sai pra lá coisa ruim! Eu estava até que empolgadinha com esse negócio de voltar a trabalhar, achando que realmente tinha tomado uma boa decisão e agora vem a culpa me assombrar de novo: “O que afinal de contas eu estou fazendo aqui? Deveria estar em casa montando quebra-cabeça com a Clara. E a noite, coitadinha, vai chegar tão tarde depois da aula de música e eu não vou ter tido tempo de preparar nada gostoso e saudável pra ela comer e nem de passar no mercado pra comprar umas frutas e nem de brincar um pouquinho com ela e nem de contar uma historinha antes dela dormir.” Ai! Que saco essa busca pela perfeição que nos acompanha o tempo todo. Perfeição que, é claro, não conseguimos atingir e só nos faz sentir incapazes, erradas e insatisfeitas. Será que é assim com todo mundo? Eu, pelo menos, acho que as conquistas que as mulheres tiveram nas últimas décadas, apesar de incontestavelmente benéficas, fizeram aumentar, sobre nós, a pressão pela perfeição. Porque afinal, apesar dessa balela de que homens e mulheres são iguais e têm os mesmos direitos e deveres, é de nós que a sociedade cobra que dê aos filhos uma boa educação, uma boa alimentação, muita atenção e carinho, que os criemos felizes e sem traumas, com muito estímulo e com total respeito à sua individualidade. E se alguma coisa der errado, é claro que nos sentiremos culpadas. E como se não bastasse, ainda exigimos de nós mesmas ser bem sucedidas profissionalmente, estar sempre bem informadas, ser super descoladas, ter um ótimo senso de humor e ser magras, malhadas e elegantes. Ufa!!! Daí a gente pode pensar: mas se somos nós que nos cobramos é só parar de nos cobrar e pronto. O negócio é que não é tão simples assim considerando o bombardeio crescente de livros e informações e programas de TV e exemplos dos mais diversos que nos ensinam e nos estimulam a ser cada vez mais perfeitas e corretas. Bem, mesmo assim a gente tem que tentar ficar o mais imune possível a essa onda de politicamente correto e de "seja o melhor, seja um vencedor" que invadiu o mundo e fazer as coisas com dedicação, mas com bom-senso. E o fato é, que nesse momento não me cabe a culpa. A escolha de voltar a trabalhar foi minha e preciso fazer com que essas ideias saiam da minha cabeça e que eu me sinta feliz, leve e realizada mesmo sem atingir a perfeição. Porque afinal, felizmente, ninguém é perfeito.

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