segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

UM ANO QUE EU NÃO QUERIA QUE ACABASSE

E não é porque ele foi maravilhosamente bom ou especial. Aconteceram, sim, coisas boas, muito boas. E aconteceram coisas não tão boas assim. Tudo, enfim, como costuma ser em um ano ou em um período de tempo qualquer. O motivo da minha resistência em deixar que ele se vá é a minha imensa dificuldade em lidar com mudanças. Sempre foi assim: todos os momentos que representaram mudanças mais intensas na minha vida foram vividos com uma boa dose de sofrimento. Mas eis que o tempo passou, eu tive uma filha e a maturidade pra lidar com essas situações... não chegou. Era essencial que tivesse chegado, porque mães que não sabem lidar bem com mudanças estão completamente perdidas e condenadas aos mais cruéis momentos de angústia e sofrimento. Porque filho muda. Muda muito. E a cada três ou quatro anos experimentam um grande rompimento com a fase anterior. Rompimento que eles sentem e do qual se orgulham enormemente. E daí vai explicar a mãe que, em vez de comemorar junto e demonstrar o orgulho que, obviamente, também está sentindo, chora feito uma obsessiva compulsiva. Criança não entende, pai da criança não entende, nem a mãe da criança entende direito. Só entende que é difícil. É difícil demais perceber, de uma hora pra outra, a mudança física, as mudanças dos gostos, das brincadeiras, do vocabulário, dos interesses. E é com lágrimas nos olhos que me sento ao lado dela, radiante de felicidade, para preencher a matrícula para o próximo ano letivo e conferir sua produção desse ano: livros e cadernos preenchidos com contas, letras lindamente desenhadas, historinhas de sua própria autoria. E a vontade é de dizer “Chega, não quero mais ver isso. Eu quero as folhas rabiscadas, a mãozinha contornada no papel, os desenhos extremamente mal pintados. Isso sim me deixava confortável”. E agora me vem à cabeça outro momento, há exatos três anos, que sofri com tanta intensidade quanto estou sofrendo agora. Na ocasião, a Clara, com a pureza e com a mente tranquila que só as crianças de três anos conseguem ter, disse para mim, que me entregava sem amarras à imaturidade dos meus 30: “Mãe, o tempo passa. Eu não posso ter três anos pra sempre”. Eu sei e me orgulho imensamente das suas conquistas e da pessoa que você está se tornando. Só que às vezes dói um pouquinho.

Um comentário:

  1. Tenho muita saudades da minha bebê, que se tornou uma mocinha de 5 anos e sempre me lembro da máxima filosófica do meu sobrinho, na época com 7 anos, enquanto eu me derretia por uma foto dele aos 3 anos:"O passado morreu!" Tem sido meu mantra desde então, eu, que tb odeio mudanças. Fiquem com Deus, bjs

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