sábado, 1 de maio de 2010

ACONTECEU COMIGO

Papo bem chato e triste e desagradável pra falar aqui. Ou em qualquer outro lugar. Mas, afinal, um dos motivos da existência desse blog é, justamente, permitir que eu abra meu coração, fale coisas que eu não tenho coragem, mas tenho vontade, de sair falando por aí. E daí, me escondo atrás do anonimato da vida virtual e vou botando tudo pra fora; terapia total.


Então, vai lá. Sabe aquele pesadelo que acompanha as grávidas de primeiro trimestre? Aquele diabinho que insiste em passear pelas nossas cabeças nos fazendo lembrar que ainda não estamos grávidas de fato, que muita coisa pode dar errado nessa tentativa de formar um ser dentro de nós? Essas ideias estavam me atormentando terrivelmente desde que soube da minha gravidez e (intuição, conhecimento de causa?) não é que elas se concretizaram? Pois é. Aconteceu comigo. Experiência das mais dolorosas e tristes que eu já vivi. E olha que eu sou bióloga, sou extremamente racional e, definitivamente, não me comovo com coisas do tipo “o milagre da concepção, o sentimento lindo e inexplicável que a mãe sente pelo filho antes mesmo de saber da sua existência” e blá, blá, blá. Pra mim, um embrião de oito semanas é um embrião de oito semanas. E a gente deve zelar por ele e proteger e fazer o possível e o impossível e tomar todos os cuidados necessários para que ele se transforme em nosso filho, que por enquanto não é. Por enquanto é uma porção de células bem organizadas que acabaram de decidir o que querem ser da vida. Viram como sou racional e durona? Pois muito bem. E aonde foi parar todo esse conhecimento, compreensão e coerência quando eu descobri que o minúsculo amontoado de células que crescia e se multiplicava dentro de mim tinha desistido de ir em frente? Elas pararam assim, todas juntas, de desempenhar seus papéis e abandonaram a missão. E não é a palavra morte que me assusta e entristece, nem tão pouco posso dizer que sofri tanto porque já amava incondicionalmente o meu filho. O que eu amava, na verdade, era a ideia desse filho. Era a imagem que eu já tinha bem nítida de eu sendo mãe daqui sete meses. Eram as mudanças que estavam acontecendo na minha vida em função do que estava acontecendo dentro de mim. Era, sobretudo, saber que daqui a pouco tempo eu estaria fazendo o que eu mais gosto de fazer e que eu ia viver de novo o incrível desafio de ensinar, divertir, consolar, acolher, educar e proteger um outro serzinho. E eu ia experimentar a aterrorizante sensação de amar muito, mais muito mesmo, alguém, a ponto de mudar minha vida, minha personalidade, meus ideais e me sentir muito feliz com tudo isso. E, gente!, é muito difícil ter que lidar com a interrupção tão abrupta dessas ideias, mesmo sabendo de divisão celular, da ativação da expressão gênica e de todas as porcentagens e chances e números. Que se dane as estatísticas e a biologia nessas horas. Eu continuo chorando e sentindo profunda tristeza e querendo que nada disso estivesse acontecendo comigo. Vai passar? É claro que vai. Como tudo na vida.

2 comentários:

  1. oi, queria te dizer que também aconteceu comigo. a dor é inexplicável e a sensaçao de vazio é muito intensa. sinto muito por ti, mas é exatamente como vc disse, tudo passa. vc nunca vai esquecer, mas a lembrança vai ser menos dolorida. um abraço e fique com Deus

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  2. Você é uma pessoa maravilhosa. Te admiro muito !!
    Beijinhos e vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos da vida...

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